segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sonhos

Falaremos a sério, estou frente a frente contra aquilo que mais quero, sinto as fortes batidas do vento no meu corpo, fazendo correr, como se fosse fugir de mim, o meu cabelo, juntamente com ele, vai a minha força e coragem. Está tudo perdido, a escuridão envolve-me nos seus longos braços e cada vez mais deixo de ver a luz ofuscante dos teus olhos, vou cegando aos poucos, até perder todos os sentidos que me restavam. Deixo-me ir, todas as cordas que me prendiam desapareceram, escaparam-me pelas mãos, tal como tu me escapaste. Cada vez mais longe, cada vez mais escuro, cada vez mais fraca e cega, vou me envolvendo em medo, não te quero longe, não quero deixar de sentir o forte calor do teu corpo, não quero deixar de respirar esse teu perfume envenenado, não quero deixar de ver os teus olhos brilhar sempre que sorris, mas acima de tudo não te quero deixar partir!

No fim de tudo, nada valeu, nada ficou, tudo partiu, agora fiquei presa ao chão, sem nada a agarrar-me, estou simplesmente presa e tu partiste, não te vejo mais. Corre o vento entre as árvores, levando as folhas para longe dos seus ramos, o vento contínua e vai até ao mar, onde bate nas ondas e faz as gotas espalharem-se, leva também com toda a força e maldade a areia do mar. Quando volta e rebentam em mim fortes rajadas de puro ódio, o meu corpo ergue-se devagar, fazendo frente aquilo que o rebaixava e o manteve no chão quando tu partiste. Finalmente tudo aquilo que me mantinha na escuridão do medo e da tristeza se desmoronou e eu consegui fugir, sair do pesadelo que estava a entupir a passagem dos sonhos e dos sorrisos à muito escondidos na minha mente. Levantei-me, ergui-me e caminhei pela primeira vez em décadas de solidão e escuridão, caminhei sem parar até à luz, até que comecei a correr, batendo com toda a força com os meus pés no chão, fazendo rugidos e fazendo com que tudo tremesse, por onde eu passei tudo me seguiu, tudo me olho e apoio.

Preparei-me durante anos sem fim, para a batalhada já mais alcançada, já mais vencida e já mais sonhada. Cheguei ao campo de batalha, um lugar longínquo, negro, sem vida e sem esperança, rodeado de uma estranho lago negro no qual só se via grandes manchas cinzentas de vapor, vapor quente. Estava agitada, sentia toda a minha coragem de volta, todas as minhas forças estavam agora nas minhas mãos, tinha tudo o que precisava para ganhar, até te ver, não podia acreditar que eras tu o meu inimigo, nesta batalha já mais alcançada. Veio novamente o vento forte bater no meu corpo, tudo aquilo que tinha conseguido recuperar estava agora a fugir-me pelos dedos como a brisa se escapa por entre as folhas, nesse momento percebi que aquilo que pensava já ter ganho, estava no entanto perdido. Começou a guerra, avançamos passo a passo, sempre com cautela, um pé sempre atrás do outro, mas no entanto um passo em falso e estava tudo perdido. Sabias quais os pontos em que me podias ferir, sabias o que fazer no momento em que me aparecia uma falha e tal como previsto, começaste com aquele sorriso que te faz ganhar brilho nos olhos, comecei por cegar, já não sabia onde estavas. Parei, fiquei totalmente quieta, para puder ouvir os teus passos e saber onde estavas, mas o vento era de tal maneira forte que me embalava sempre que passava por entre o meu corpo. Respirei forças e abri os olhos, estavas totalmente na minha frente, senti novamente o forte calor do teu corpo e o respirei o teu perfume envenenado, perdi o folgo, perdi a respiração, ceguei novamente e cai no chão. Estaria tudo perdido, mas apesar de teres tudo a teu favor, até mesmo as fortes rajadas de vento, tu caíste juntamente comigo e aproximaste-te, calmamente foste-te chegando a mim e quando senti os teus lábios nos meus, as minhas forças voltaram. Tinha tudo novamente, tinha tudo nas minhas mãos, podia simplesmente vencer a tal batalha nunca antes vencida, mas no entanto o meu corpo não respondia aos mandamentos e paralisei, apenas os lábios de ambos se mexiam.

Afinal tudo o que queria eras tu e no final o que tu também querias era aquilo que não tinhas, era aquilo que ambos queríamos e que nunca lutamos por ter, que no final nos fez juntar as forças à muito perdidas, os caminhos diferentes seguidos, as acções tomadas e tudo aquilo que podia nunca ter acontecido era na verdade parte do destino, o destino que tinha que ser cumprido. Lentamente fui deixando a respiração parar, o coração abrandar e o meu corpo cair sobre o teu, ficando assim os últimos segundos de vida a olhar para o teu belo sorriso e o brilho que tinhas nos olhos, sentindo-me confortável com o teu forte calor e respirando o teu perfume envenenado. A última coisa que senti foi o teu forte abraço e as lágrimas a escorrerem pela tua cara, caindo suavemente na minha, deixando-me assim cada vez mais feliz, uma das tuas mãos a tocar na minha e a outra a fazer uma leve carícia sobre o meu rosto, já pálido e frio. Falaste, ouvi a tua suave voz dizer: não vás, não estou pronto…! Mas já era tarde demais, porque a batalha tinha sido vencida e o meu destino tinha sido terminado, aquilo para que nascera tinha sido concluído. Ressuscitei as minhas últimas forças e disse: ninguém está pronto para ser deixado, mas tal como tu me deixaste e eu aguentei, tu irás ao longo do tempo ganhar forças para ultrapassar isto, na verdade a grande batalhada foi durante toda a vida perceber que eras tu que me faltavas, acabando assim hoje por finalmente ter essa vitória sobre as minhas mãos…

Deixei-te um sorriso e uma lágrima, foi a única coisa que consegui após ter gasto todas as minhas forças para te dizer, por outras palavras, que te amava. Mas antes de partir senti o teu peso todo sobre o meu corpo, deixei a minha cabeça pousar no chão e vi sangue espalhado, manchas enormes de grande vermelho. Comecei a deixar de sentir o teu forte calor e deixei de ouvir a tua respiração, não queria acreditar que tinhas também partido, nem que o tinhas feito por mim. Último suspiro e tudo parou, o forte vento e o teu calor desapareceram, estava em paz contigo finalmente.

2 comentários:

  1. Se eu voltasse atrás, já não fazia o mesmo ( :
    disso eu tenho a certeza!

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  2. Népia amor , fazemos muitas vezes o mesmo erro..

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