Ali estava eu, tão
perto, mas tão longe, com as minhas pernas a tremer, com medo da reação dele. A
única parte do corpo que mantinha quente eram os pés cobertos por meias às
bolinhas.
Continuava
sentada ao frio, a tremer cada vez mais e a minha silhueta feminina começava
também a quebrar por todos os lados. Os arrepios eram tantos que, com a força
das convulsões, empurrei algo para o chão e um estrondo ecoou pela rua, com um
movimento repentino.
- Aquilo é o quê? – Pensei eu ao presenciar
tal acontecimento.
Até que quando os meus olhos alcançaram um
monte de lixo no chão apercebi-me que aquilo que o meu corpo mandara para o
chão era um vazo, que agora, com a força do movimento exercitado, ficara um
simples vazo partido no chão de uma rua deserta e cinzenta.
De repente, no vazio do silêncio, comecei a
ouvir passos e, ao virar a face de forma a contrariar o movimento do meu corpo,
avistei o vulto dele a caminhar para junto de mim e o nervosismo a invadir o
meu corpo.
Chegando junto de mim, rompemos o silêncio e
demos início a algo que parecia o diálogo entre dois borrões. Quem passasse
perto julgava-nos como “dois objetos abstratos a comunicar” e no meio de tal
discussão a única coisa que me vinha ao pensamento era meias! Com tanto
nervosismo contido no meu corpo, interrompi a discussão, que pesava no momento
e criava mau ambiente, exclamando:
- MEIAS!
Após o acontecimento, o meu corpo criou uma
pigmentação avermelhada, do rosto frio até ao peito que escaldava.
Ele parou de se pronunciar, olhou para mim e
com um sorriso disse:
- Peúgas?
Eu já nem sabia o que dizer ou pensar, mas
caminhamos os dois após aquele estranho acontecimento e eu voltei a comentar
algo fora do contexto:
- São pernas de um bebé com fraldas! – Apontei
com o meu dedo fino e comprido para uma nuvem que passava no céu e sorri-lhe.
Eramos duas crianças num mundo sem sentido. Contudo,
eramos duas crianças felizes.
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